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A Personalidade Começa No Útero

Os bebés aprendem como é o mundo exterior através das emoções das suas próprias mães. Esta conexão pode moldar a formação das suas personalidades desde o primeiro dia.


O nosso primeiro contacto com a realidade é através do útero da nossa mãe.

Desde a conceção, o bebé recebe “mensagens” do mundo exterior para saber como é o ambiente que o rodeia. Essa comunicação consiste principalmente em hormonas, que fluem da mãe para o bebé através da placenta.


Quando as mães sentem medo, os seus corpos produzem mais cortisol e adrenalina. Quando sentem satisfação, produzem principalmente serotonina e oxitocina. A corrente sanguínea levará esses “mensageiros” ao corpo do bebé, como forma de deixá-lo sentir o mundo através dos sentimentos da mãe.


Um estado de stress agudo leva a que o corpo se contraia, que o coração acelere e que estas hormonas se espalhem pelo corpo através da corrente sanguínea. No interior da barriga, o bebé sentirá não só os efeitos das hormonas, que agora circulam também no seu corpo, como toda a contração do útero e da musculatura pélvica.


Todos estes sinais causam reações no corpo do bebé, que se desenvolve preparando-se para o tipo de mundo onde vai nascer – um mundo mais acolhedor ou mais ameaçador. Como a mãe vê o mundo e se sente nele é traduzido em processos bioquímicos que serão a linguagem do bebé até que se desenvolva ao ponto de poder, por si mesmo, entender o que se passa.


O desenvolvimento de um bebé não é apenas geneticamente codificado. É verdade que muitos processos estão programados para acontecer ao longo das várias semanas de gravidez, mas os genes respondem aos estímulos do ambiente.


Isso significa que o desenvolvimento é interativo, tanto o físico como o psicológico – o que inclui a formação da personalidade.


A personalidade é um conjunto de padrões que se formam a partir da interação da herança biológica com o meio ambiente, e começa no útero.

"Todas as nossas experiências se fundem na personalidade. Tudo o que nos aconteceu é um ingrediente." - Malcolm X


Se um bebé estiver mais exposto a hormonas relacionadas com o medo, diferentes genes serão expressos e a personalidade será formada de acordo com essa interação. Estudos científicos indicam que um bebé pode ser mais calmo ou mais agitado, dependendo de quão seguro se sentiu durante a gravidez.


A segurança que o bebé sente também desempenha um papel no desenvolvimento da inteligência. Isto que significa que um vínculo seguro desempenha um papel crucial nesta dinâmica.


À medida que o bebé cresce dentro da barriga, os seus sentidos desenvolvem-se cada vez mais e a sua experiência do mundo deixa de ser apenas química e hormonal. Além das hormonas, eles também podem escutar e sentir as suas mães.


Ainda enquanto feto, o bebé desenvolve a capacidade de ouvir por volta das 18 semanas de gravidez. Depois, algures entre as 22 e as 24 semanas, o bebé já consegue reconhecer as vozes, especialmente a da mãe. Este reconhecimento é expresso através do aumento de movimentos no interior da barriga.


A partir do terceiro trimestre, o desenvolvimento neuronal quase triplica, o que torna o cérebro do bebé mais recetivo aos estímulos que o rodeiam. A gestão de stress e das emoções desempenha um papel ainda mais importante nesta fase, sendo que, ao permitirem uma melhor regulação emocional, permitem que ocorra um melhor desenvolvimento das funções cognitivas.


Assim, e se o desenvolvimento é interativo, as mães podem ter um papel ativo na formação das personalidades dos seus bebés.


Mesmo que o bebé esteja ansioso, a mãe pode falar ou cantar para a sua barriga, ou massajá-la, produzindo hormonas mais relaxantes que se irão sobrepor às anteriores.


Quem diz a mãe, diz o pai, porque o vínculo intrauterino também é estabelecido com o pai quando este interage com a barriga falando, cantando e tocando. É uma forma não só de incluir o pai como elemento estrutural na segurança que o bebé sente, como também mantê-lo envolvido no processo da gravidez.


A própria mãe pode sentir-se mais segura por ter uma presença de qualidade por parte do seu companheiro, passando esta segurança para o bebé, que agora a recebe a duplicar.


Outra forma de possibilitar o contacto entre o bebé e ambos os pais são as ecografias a 5d – ou ecografias emocionais. Estas designações surgiram pela possibilidade de se poder ver o bebé em toda a sua dimensão e relevo, a mover-se em tempo real e a expressar as suas emoções. É uma janela de oportunidade incrível para os pais estabelecerem um vínculo com o bebé.


O vínculo é como um cobertor quente, que acolhe e aconchega, um porto seguro onde sempre se pode regressar depois de alguma agitação.


E não é um problema sentir agitação, medo ou ansiedade durante a gravidez. O problema é ter uma gravidez baseada nessas emoções. O medo é uma emoção natural e há muitas razões para ter medo ao longo desta jornada, já que tantas mudanças estão a ocorrer em tão pouco tempo. A resposta é ir trazendo a segurança de volta sempre que necessário.


Para um bebé em crescimento, é na verdade saudável sentir estas oscilações e depois regressar à segurança, permitindo-lhe saber que existem todas estes estados, assim como formas de cuidado e regulação.


Acima de tudo, não se culpe por sentir o que quer que seja, mesmo sabendo que essas experiências chegam ao seu bebé. Saiba, sim, que as emoções ocorrem para nos informar como cada coisa nos faz sentir e nos impactua. Embora possam ser dolorosas, levam-nos à consciência do que precisamos e apenas assim podemos cuidar e nutrir.


Essa é a intenção que fica nas entrelinhas deste artigo – tomar consciência. E que essa consciência seja o elo de ligação entre si, os recursos e as pessoas que a podem ajudar a recuperar a segurança em si. Saiba que é possível ganhar clareza, sentir-se segura e usufruir desta jornada. Essas sensações também chegarão ao seu bebé.


A necessidade primordial do bebé é sentir-se cuidado e nutrido, por isso permita que o seu amor flua por todos os canais disponíveis até ao seu bebé.




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Referências

  • Livros

    • Quando Eu Estava Na Tua Barriga, de Eduardo Sá (2019). Lua de Papel.

    • O Livro da Gravidez e do Bebé, tradução de Susana Serrão (2015). DK

  • Artigos Científicos

    • Thomason, M. E., Hect, J. L., Waller, R., & Curtin, P. (2021). Interactive relations between maternal prenatal stress, fetal brain connectivity, and gestational age at delivery. American College of Neuropsychopharmacology, 46, 1839–1847.

    • Schore, A. N. (2001). Effects of a secure attachment relationship on right brain development, affect regulation, and infant mental health. Infant Mental Health Journal, 22(1–2), 7–66.


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